PORTAL RIO MADEIRA – Rondônia vive uma das maiores crises de segurança pública de sua história recente. O embate entre o governo estadual e uma facção criminosa, que começou no condomínio popular Orgulho do Madeira, atingiu um nível alarmante nos últimos dias. Mortes de policiais – um militar e um penal –, ônibus incendiados e a explosão de um totem da Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec) são apenas alguns dos eventos que ilustram o caos. A onda de violência chegou a suspender o transporte público em Porto Velho, prejudicando diretamente a população que depende dos ônibus para trabalhar e estudar.
Após o assassinato do policial militar Fábio Martins, as forças de segurança do estado ocuparam o residencial Orgulho do Madeira com o objetivo de identificar e capturar os criminosos responsáveis pelo homicídio. Contudo, ao menos até agora, três dias após o ocorrido, a ocupação não surtiu efeito real e a população continua enfrentando uma escalada de tensão e medo.
Alerta
De acordo com dados do Observatório Estadual de Segurança Pública, até o dia 30 de novembro de 2024, Rondônia registrou 404 homicídios. Isso equivale a mais de um homicídio por dia, refletindo a escalada de violência que afeta todo o estado. Esses números são um reflexo direto da incapacidade de combater de forma eficiente o crescimento das facções criminosas e da deterioração da segurança pública.
Defasagem e Prioridades Deturpadas
A segurança pública de Rondônia enfrenta uma situação de abandono. O estado tem boas polícias, formadas, em sua maioria, por bons policiais, mas carecem de condições adequadas. O efetivo policial está extremamente defasado, especialmente na Polícia Militar, na qual muitos agentes são cedidos para ocupar cargos políticos comissionados ou fazer segurança de parlamentares e membros do judiciário, que poderiam utilizar segurança privada custeada com seus próprios orçamentos. A Polícia Civil também sofre com a falta de pessoal e a não convocação de aprovados em concursos públicos, o que prejudica investigações e o combate ao crime. Na Polícia Penal, o número insuficiente nos plantões das cadeias coloca em risco não apenas os profissionais, mas toda a sociedade.
Enquanto isso, o governo concedeu aumentos salariais desproporcionais, beneficiando principalmente os oficiais – coronéis, tenentes e outros – enquanto os praças, que estão na linha de frente, responsáveis pelo policiamento ostensivo e as atividades de preservação da ordem pública, ficaram com a menor fatia. Apesar de os policiais estarem ganhando um pouco mais, continuam enfrentando condições precárias, com equipamentos sucateados e sem reforço no efetivo.
População Paga Mais por Mais Insegurança
Para viabilizar o aumento salarial das forças de segurança, o governo de Rondônia não enxugou sua enorme lista de comissionados nem realizou corte de gastos. A medida encontrada foi aumentar impostos, fazendo com que toda a população pagasse pela promessa de campanha. No entanto, a segurança pública segue ineficaz. Enquanto a população arca com uma carga tributária maior, o domínio das facções só cresce. E agora, com a violência atingindo níveis críticos, até serviços essenciais como o transporte público chegaram a ser interrompidos, agravando ainda mais a sensação de insegurança e a precarização do dia a dia dos rondonienses.
Ações Necessárias
Resolver o problema vai muito além de ocupações temporárias em áreas dominadas por facções. Ações paliativas, como aumentar o número de viaturas em um local ou “eliminar” alguns membros de baixa hierarquia das facções, apenas mascaram a situação. O que Rondônia precisa é de uma operação integrada e estratégica, incluindo:
- Reforço de inteligência: Investir em tecnologia e recursos humanos para mapear e neutralizar lideranças.
- Apoio federal e estadual: Solicitar a Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ministério Público de Rondônia (MP-RO) e Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) para atuar em conjunto.
- Neutralização de lideranças: Focar nos chefes das facções e suas redes de operação.
- Reorganização de prioridades: Recuperar policiais cedidos para outras funções e direcioná-los ao policiamento ativo.
- Concurso público: Convocar aprovados e abrir novos processos seletivos para reforçar a segurança pública.
Falta de Liderança
Outro ponto crítico é a postura do governador, que se mantém distante nos momentos mais delicados. Diante do aumento da violência e do clamor popular, sua ausência só agrava a sensação de insegurança. Um líder precisa estar presente e assumir a responsabilidade em situações de crise.
Futuro em Jogo
Com mais de 404 homicídios registrados em 2024 e uma segurança pública fragilizada, Rondônia está em um ponto de ruptura. A solução exige coragem, planejamento estratégico e liderança forte – fatores que, até agora, têm faltado. Sem uma mudança de postura, o estado continuará refém do crime organizado.