PORTAL RIO MADEIRA – A data de 1º de Maio, internacionalmente reconhecida como símbolo da luta dos trabalhadores por direitos, ganhou um novo significado no Brasil ao longo dos anos. O que antes era uma expressão das classes operárias por melhores condições, acabou sendo absorvido e reformulado pelo Estado, sobretudo durante o governo de Getúlio Vargas.
Das ruas de Chicago ao Brasil: a origem combativa da data
A origem do Dia do Trabalhador remonta a uma greve realizada em 1886 em Chicago, nos Estados Unidos. Os trabalhadores exigiam a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, e o movimento resultou em repressão e mortes, marcando o episódio como símbolo internacional da resistência operária.
No Brasil, embora manifestações já ocorressem no final do século 19, como os protestos em Santos em 1895 e a Greve Geral de 1917 em São Paulo, a oficialização da data veio apenas em 1924, durante o governo de Artur Bernardes, com um decreto que reconhecia o 1º de Maio como feriado nacional dedicado à “confraternidade universal das classes operárias”.
A virada de Vargas: do protesto à festa estatal
Apesar de não ter alterado o decreto original, foi Getúlio Vargas quem reformulou o significado da data. Segundo historiadores, ele esvaziou o caráter reivindicatório do feriado e o transformou em uma celebração institucional do trabalho, e não mais do trabalhador.
“O projeto getulista domesticou o 1º de Maio. A data virou uma comemoração cívica, controlada pelo Estado, com festividades, shows e desfiles, deixando para trás o espírito de luta e protesto”, afirma o historiador Claudio Bertolli Filho, da Unesp.
Com Vargas, surgiram eventos com a presença da bandeira nacional em vez das insígnias do movimento operário e discursos que exaltavam o trabalho como pilar da ordem. Era a tentativa de Vargas de se colocar como o provedor de direitos, desestimulando as lutas autônomas dos trabalhadores.
CLT e salário mínimo: direitos como dádiva do Estado
Foi em um 1º de Maio, em 1943, que Vargas sancionou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), reunindo normas sobre jornada, férias, segurança no trabalho e instituindo o salário mínimo. Entretanto, a forma de anunciar esses direitos também fazia parte da estratégia: ao invés de resultado de luta sindical, os direitos eram apresentados como presentes do governo, reforçando a imagem paternalista de Vargas.
“Era o Estado quem dizia quando e o que conceder. Os sindicatos eram enfraquecidos, substituídos por um sindicalismo pelego, totalmente atrelado ao governo”, explica o historiador Marcelo Cheche Galves, da Universidade Estadual do Maranhão.
Da anarquia à propaganda
Enquanto os anarquistas do início do século 20 promoviam o 1º de Maio como um dia de protesto livre, os anos Vargas transformaram a data em evento oficial com shows, discursos e controle da narrativa. Um dos nomes que se apresentou nesses eventos foi Vicente Celestino, símbolo da cultura popular do período.
Entre pão e circo, repressão e concessão, Getúlio Vargas moldou o Dia do Trabalhador para atender aos interesses do Estado, controlando a narrativa e garantindo a lealdade das massas. Como resume o pesquisador Paulo Rezzutti, “a luta virou comemoração, e a conquista virou dádiva”.
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Fonte: Portal Rio Madeira